Uma deusa mãe (ou deusa-mãe) é uma deusa,
amiúde representada como a Mãe Terra; é representada como deidade
de fertilidade geralmente sendo a generosa personificação da Terra. Como
tal, nem todas as deusas podem considerar-se manifestações da Deusa Mãe.
O termo refere-se a um mito universal de divindade feminina
relacionada à Natureza, aos ciclos, à fertilidade, e seu culto remonta ao
início da história humana, como pode ser observado nas retratações
de Vênus da Pré-história. O culto à Deusa Mãe foi observado inicialmente
na Pré-história (Paleolítico e Neolítico), aonde foram encontradas estatuetas
de culto, estendendo-se ao reino da Frígia, aonde ficou mais conhecida como
Cibele, e daí à civilizações grega, romana, egípcia e babilônia aonde
consolidou-se um enorme panteão de deusas.
A existência do culto em várias culturas não-frígias evidencia no
entanto que Cibele é tão-somente a manifestação local desta divindade, a qual
era identificada, entre os gregos, à deusa Réia.
Estudos apontam que a ascensão do patriarcado, iniciada com os hebreus,
na religião fez com que a tradição de adoração à Deusa se tornasse ameaçadora à
consolidação do poder pelos homens. Alguns ramos do cristianismo, tais como
o Catolicismo Romano, e a ortodoxia consideram Maria, como uma mãe
espiritual, cumprindo um papel materno, e vista como uma força protetora e
intercessora, porém ela não é adorada como uma "Deusa-Mãe".
Esta deusa é representada nas
tradições ocidentais de muitas formas, das imagens talhadas em pedra de
Cibele a Dione, deusa invocada em Dodona, junto com Zeus, até finais da época
clássica. Entre os hinos homéricos (séculos VII-VI a.C.) há uma
dedicação à Deusa Mãe chamado «Hino a Gea, Mãe de Todo». Os
sumérios escreveram muitos poemas eróticos sobre a deusa mãe Ninhursaga.
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Controvérsia
As deidades que se encaixam na moderna concepção de deusas mães tem sido claramente adoradas em muitas sociedades até a atualidade. James Frazer (autor de O Ramo Dourado) e aqueles a quem influenciou (como Robert Graves e Marija Gimbutas) avançaram a teoria de que todo o culto na Europa e Egeu que incluiu qualquer tipo de Deusa Mãe tinha origem nos matriarcados neolíticos pré-indoeuropeus, e que as diferentes deusas de localidades distintas eram equivalentes.
Ainda que esta idéia tenha tido boa aceitação como categoria útil para a
mitografia, a idéia de que na antiguidade se cria que todas estas deusas eram
intercambiáveis, tem sido objeto de estudo de diversos autores,como James
Frazer, J.J. Bachofen, Joseph Campbell, James Melaart, Merlin Stone, Jane Ellen
Harrison, Marija Gimbutas, Walter Burkert, entre muitos outros.
Perspectiva não cristã
A arqueologia pré-histórica, como por exemplo no sítio de Çatalhüyük, e a mitologia pagã registram esta origem do culto à Deusa Mãe e do ocre vermelho. As mais recentes descobertas de uma religião humana remontam, inicialmente, ao culto aos mortos (300.000 a.C.) e ao intenso culto da cor vermelha ou ocre associado ao sangue menstrual e ao poder de dar a vida. Na mitologia grega, a chamada mãe de todos os deuses, a deusa Réia (ou Cibele, entre os romanos), exprime este culto na própria etimologia: réia significa terra ou fluxo.
O acadêmico Joseph Campbell argumenta que Adão --do hebraico אדם relacionado
tanto a adamá ou solo vermelho ou do barro
vermelho, quanto a adom ou vermelho, e dam, sangue--
foi criado a partir do barro vermelho ou argila.
A identidade da religião com a Mãe Terra, a fertilidade, a
origem da vida e da manutenção da mesma com a mulher, seria, segundo Campbell,
retratada também na Bíblia ...a santidade da terra, em si, porque ela é
o corpo da Deusa. Ao criar, Jeová cria o homem a partir da terra [da Deusa], do
barro, e sopra vida no corpo já formado. Ele próprio não está ali, presente,
nessa forma. Mas a Deusa está ali dentro, assim como continua aqui fora. O
corpo de cada um é feito do corpo Dela. Nessas mitologias dá se o
reconhecimento dessa espécie de identidade universal.
Diversos autores modernos analisam a estória da criação do GÊNESIS sob
uma perspectiva não-cristã a qual seria definir a Bíblia como uma narrativa
alegórica sobre a divindade hebraica Yavé suplantando a Deusa mãe, representada
pela árvore da vida, e a religião hebraica suplantando este culto. Isto é
demonstrado na passagem sobre a origem do pecado em que o conhecimento proibido
relaciona-se a sexo, sexualidade, e reprodução, especialmente o conhecimento de
que os homens participam da reprodução e que a estória descreve o processo pelo
qual sociedades matriarcais tradicionais foram substituidas por sociedades
patriarcais .
Diversos autores discutem sobre várias religiões do
Oriente Próximo, muitas das quais representavam a Deusa mãe por uma
serpente e outras por uma simbologia de comunhão realizada pelo ato de comer
uma fruta de uma árvore que crescesse perto do altar dedicado à Deusa. Estas
deusas, primeira e única
Deusa Criadora, também representava o Conhecimento, a Criatividade
Humana, sexo, sexualidade, reprodução, novos ciclos e/ou Destino.
Gênesis e Enuma Elish
São várias as similaridades entre a história da criação no Enuma Elish e
a história da criação no Livro do Gênesis. O Gênesis descreve seis dias de
criação, seguido de um dia de descanso, enquanto que o Enuma Elish descreve
a criação de seis deuses e um dia de descanso.
Em ambos a criação é feita pela mesma ordem, começando na Luz e acabando
no Homem. A deusaTiamat é comparável ao Oceano no "Gênesis", sendo
que a palavra hebraica para oceano tem a mesma raiz etimológica que Tiamat .
Exemplos de deusas mães
Não há disputas sobre fato de muitas culturas antigas adorarem deidades femininas como parte de seus panteões que encaixam com a concepção moderna de «deusa mãe». As seguintes são exemplos:
Pelasgos
Eurínome foi a princípio o protótipo da Deusa Mãe Criadora grega e
a mais importante divindade dos pelasgos, o povo que ocupou a região da Grécia
em tempos pré-históricos antes da invasão jônica e dórica. Após a ascensão do
patriarcado, Eurínome foi injustamente rebaixada aos status de amante de Zeus,
e de Criadora passou a ser considerada apenas uma titanide filha de Oceano e
Tétis. Todavia, mesmo na versão patriarcal da mitologia grega, Eurínome e seu
consorte Ofion reinaram sobre o monte Olimpo até serem derrotados por Réia e
Cronos.
Deusas sumérias, mesopotâmicas e gregas
Tiamat na mitologia suméria, Ishtar (Inanna) e Ninsuna na caldeia, Asherah em Canaã, Astarté na Síria e Afrodite na Grécia, por exemplo.
Elam
Uma das mais importantes figuras do panteão foia deusa Pinikir um nome com cognatos encontrado em outros sistemas de crença de povos desta região. "O fato de que a precedência foi dada a uma deusa, a qual estava acima dos demais deuses do panteão elamitas, indica que os devotos elamitas seguiam o matriarcado nesta religião... No terceiro milênio, estas deusas exibiam um indiscutível poder à frente do panteão elamita"
Deusas celtas
A deusa irlandesa Anann, às vezes conhecida como Dana, tem um impacto como deusa mãe, a julgar pelo Dá Chích Anann cerca de Killarney (Condado de Kerry). A literatura irlandesa nomeia a última e mais favorecida geração de deuses como ‘o povo de Danu’ (Tuatha de Dannan), Ceridween.
Deusas nórdicas
Entre os povos germânicos provavelmente
foi adorada uma deusa na religião da Idade
de Bronze Nórdica, chamada por Jörð que mais tarde foi conhecida como Nerthus na mitologia germânica,
e que possivelmente seu o culto persistiu no culto a Freya da mitologia nórdica.
Sua equivalente na Escandinávia era a
deusa aclamada por "natureza" Jörð e o deus dos mares e da
fertilidade Njörðr. Jord possui
diversos aspectos parecidos com as outras Deusas, como por exemplo seu nome
no Islandês que é Gyðia e quer dizer
"Deusa".
Deusas gregas
Nas culturas do Egeu, Anatólia e no antigo Oriente Próximo, uma deusa mãe foi venerada com as formas de Cibeles (adorada em Roma como Magna Mater, a ‘Grande Mãe’), de Gea e de Rea.
As deusas
olímpicas da Grecia clássica tinham muitos personagens com
atributos de deusa mãe, incluindo Hera e Deméter.
A deusa minoica representada
em achados arqueológicos como selos ou outros restos, a
quem os gregos chamavam Potnia Theron, ‘Senhora das Betas’, muitos de
cujos atributos foram logo absorvidos também por Artemisa, parece haver sido um tipo de deusa mãe,
pois em algumas representações amamenta os animais que carrega.
A arcaica deusa local adorada em Éfeso, cuja estátua de culto era adornada com
colares e cintos sobre os quais colocavam protuberâncias redondas, mais
tarde identificada pelos gregos como Artemisa, foi provavelmente também uma
deusa mãe.
A festa de Anna Perenna dos
gregos e romanos no Ano Novo, sobre o 15 de março, cerca do equinócio do
inverno, pode haver sido una festa da Deusa Mãe. Dado que o Sol era considerado
fonte de vida e alimento, esta festa também se assemelhava com a Deusa Mãe.
Deusas romanas
A equivalente de Afrodite na mitologia romana, Vênus, foi
finalmente adotada como figura de deusa mãe.
Era considerada a mãe do povo romano, por ser a de seu ancestral, Eneias, e antepassado de todos os subsequentes governantes
romanos.
Na época de Júlio César era Vênus Genetrix (‘Mãe
Venus’).
Magna Dea é a expressão latina para ‘Grande
Deusa’, e pode aludir a qualquer deusa principal adorada durante a República ou
Império romanos.
O título Magna Dea podia aplicar-se a uma deusa a origem de um panteão,
como Juno ou Minerva, ou a uma deusa adorada monoteísticamente.
Deusas mães túrquicas siberianas
Umai,
também conhecida como Ymai o Mai,
é a Deusa Mãe dos turcos siberianos. Se representa com sessenta tranças
douradas, que parecem raios de sol. Acredita-se que uma vez foi idêntica
a Ot dos mongóis.
Deusas Afro-Brasileiras (Orixás)
Iemanjá, Oxum, Iansã e outras Deusas Mães compõem o panteão
de Orixás das religiões Afro-brasileiras, e cada uma delas responde por um
aspecto da natureza, da vida das pessoas, etc.
Existem muitas particularidades em cada uma delas, mas algumas em
especial podem manipular o tempo, o espaço, os elementos etc.
Tanto no Candomblé como
na Umbanda as Deusas Mães possuem um papel
primordial, e para muitos fiéis, vai além das Divindades Masculinas, pois são
"adotados" e se tornam "filhos" delas.
Conceitos de deusas mãe no hinduísmo
A deusa Durga é considerada como a deusa mãe suprema por alguns hindus.
No contexto hinduista, o culto a a
Deusa Mãe pode seguir se até as origens da cultura védica, e talvez
mais além.
O Rig Veda chama o
poder divino feminino Mahimata, um
termo que significa literalmente ‘Mãe Terra’.
Em alguns lugares, a literatura védica alude a ela como Viraj, a mãe
universal, como Aditi, a Mãe dos Deuses, e como Ambhrini, a
nascida do Oceano Primordial. Durga representa o poder e
a natureza protetora da maternidade.
Uma encarnação de Durga é Kali,
que nasceu de sua frente durante a guerra (como meio para derrotar o inimigo de
Durga, Mahishasura).
Durga e suas encarnações são especialmente adoradas em Bengala.
Atualmente, Devi é considerada em múltiplas formas,
todas representando a força criativa do mundo, como Maya e prakriti, a força que galvaniza a raíz divina
da existência em autoproteção como o cosmos. Não é, pois, meramente a terra,
inclusive apesar de esta perspectiva seja coberta por Párvati (a encarnação previa de Durga).
Todas as diversas entidades femininas hinduístas são consideradas como muitas
facetas da mesma divinidade feminina.
Conceito de deusa mãe no paganismo
As religiões pagãs são, no
ocidente, aquelas que mais focalizam os cultos em uma Deusa Mãe.
Na religião Wicca acredita-se em uma
força superior, a Grande Divindade, de onde tudo veio.
Essa força superior é adorada sob a forma de duas divindades básicas: a
Grande Mãe e o Deus Cornífero.
Esse Casal Divino representa todos os demais deuses das diversas
mitologias adotadas pelos wiccanos. Como algumas tradições wiccanas seguem uma
infinidade de Deusas e Deuses, a crença pagã é que todas essas deusas e todos
esses deuses são aspectos diferentes da Grande Deusa e do Grande Deus.
Daí o ditado da Wicca que diz que "Todas as deusas são uma Deusa
e todos os deuses são um Deus (Dualidade cósmica).
A Deusa Mãe é a geratriz de Todo o Universo e de tudo o que ele contém,
daí a frase: Tudo vem da Deusa e tudo para ela retorna.
Uma conseqüência do culto à Deusa Mãe na Wicca é a super-valorização da
natureza, justificada pela sua ligação à Terra, na forma de Gaia.
Além da Terra, outro símbolo muito importante da Deusa é a Lua,
onde se manifesta de três maneiras, na forma de Deusa Tríplice, sendo a Lua Cheia associada ao
seu aspecto de Deusa Mãe.
Uma questão que muitas vezes se levanta na Wicca é se A Deusa é mais importante do que O Deus. O que se pode dizer é que é uma discussão inócua. A Deusa e O Deus são de igual importância na Wicca. Embora pareça haver mais enfoque à Deusa, as duas divindades básicas da Wicca são complementares. Não há hierarquia entre elas.
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